Introduction
It’s common ground among analysts of Brazilian politics that in 2002 Lula basically accepted Fernando Henrique Cardoso’s conservative economic policy to win the election. His two terms of office saw a huge growth of the Brazilian economy and an increase in social spending, but the redistribution that took place was largely from the middle class to the lower middle class, with the rich untouched.
Lula is today, literally and symbolically, voiceless as a result of his cancer of the larynx. But his successor, Dilma Rousseff, has not found a voice that can facilitate the deals with her political base or charm the Brazilian public. She is a technocrat, and pushing forward Lula’s legacy with what is often seen as ruthlessness.
In a Marxist analysis of Dilma’s politics. Luiz Werneck Vianna says that Dilma, without Lula’s experience in working with civil society, will sooner or later be unable to maintain the delicate balancing act that she needs to hold together the antagonic foces within her coaltion. This, he says, wil release energy in civil society abnd bring a return of real politics to Brazil.
Below are some translated extracts from the article we reproduce in Portuguese:
‘The PT surrendered to pragmatism. But there are still important things in the PT, which brought fresh air into the system and brought the social movements closer to the government and the administration, as well as having a very hands-on and friendly policy towards trade unionism. The unions still have an important role in government, not as much in Dilma’s government as in Lula’s, but there are still some characteristics of this. All this needs to be recorded in the balance of what the PT has accomplished so far. What it has lost is the spirit, the inspiration, the link with its origins, with the great expectations that it could produce a transformation in Brazil. The truth is that the PT became a transmission line for bourgeois expansion in Brazil.’
‘On the one hand [Dilma] is libertarian, and on the other she is involved with the most backward elements in Brazil in terms of social behaviour [a reference to her evident desire to maintain good relations with the ‘evangelical bloc’ in Congress]. Where will this go? Does she want to push modernity forward or let it just scrape through? I imagine from now on a scenario of greater aggression in politics. Over the whole question of public sector workers, the environment, the military, there are already signs of this, and in the land question and the role of the unions. Politics is likely to revive very powerfully over the next few years. It’s no longer possible to hold society down with this tactic of keeping opposing forces in constant balance.’
“O PT SE TORNOU UMA FORÇA CONDUTORA DA EXPANSÃO BURGUESA NO BRASIL”
NA VISÃO DO SOCIÓLOGO LUIZ WERNECK VIANNA, DILMA ROUSSEFF É UMA GRANDE RACIONALIZADORA, UMA GRANDE ADMINISTRADORA. “A POLÍTICA NÃO É O RAMO DELA”, CONSTATA
POR GRAZIELA WOLFART 8 MARÇO 2012
Ao avaliar o primeiro ano do governo Dilma Rousseff, o sociólogo brasileiro Luiz Werneck Vianna defende que as questões que importam para a presidente são as de estado e de economia, de gestão, de racionalização. “Ela é muito desatenta em relação a esses problemas de tornar o governo mais poroso, mais próximo dos movimentos sociais, atraindo-os para o Estado e daí exercendo sobre eles uma tutela. A ênfase do governo Dilma é economia de gestão, racionalização”. Werneck não concebe a ideia de que Dilma traia o mandato de Lula. “Ela procura ser fiel. O problema é que não é fácil ser fiel, pois ela é diferente dele”. Na entrevista a seguir, concedida por telefone para aIHU On-Line, o professor-pesquisador da PUC-Rio aposta no ressurgimento da política nos próximos anos com muita força. “Não há mais possibilidade de segurar a sociedade com esse jogo de manter os contrários em permanente equilíbrio”. excluído
Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outros, A REVOLUÇÃO PASSIVA: IBERISMO E AMERICANISMO NO BRASIL (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA E DAS RELAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e DEMOCRACIA E OS TRÊS PODERES NO BRASIL (Belo Horizonte: UFMG, 2002).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O senhor percebe a marca do chamado “coronelismo” na coalizão de governo com ministros oriundos de oligarquias?
Werneck Vianna – Essa não seria uma designação adequada. O que ocorre é que os remanescentes desse sistema de controle político, que teve vigência durante décadas, estão ressurretos entre nós através da coalizão que o governo faz com os setores vinculados a práticas retardatárias e a formas de propriedade, especialmente o latifúndio, que predominaram e ainda predominam em boa parte do país, principalmente no Nordeste.
IHU On-Line – Por que o Brasil não consegue romper com as forças conservadoras e atrasadas? O senhor percebe a necessidade delas?
Werneck Vianna – Não vejo como necessidade para a boa governança do país, mas isso é resultado de um cálculo. Para se dar um passo é preciso recuar dois, especialmente se olharmos para a agenda comportamental. E hoje é um dia especial (dia 8 de março, dia internacional da mulher), para pensar nas questões referentes a comportamento, a mulher mesmo e a questão do aborto. Nisso não se avança, não se discute. Não é a questão de ser ou não a favor do aborto. Pelo contrário, trata-se de uma prática de saúde pública que está levando à morte milhares de mulheres que são mal atendidas.
IHU On-Line – Como conciliar a cobrança de Dilma de postura republicana dos seus ministros num governo com figuras que se formaram politicamente em ambientes onde se pratica o patrimonialismo e o clientelismo como regras do jogo?
Werneck Vianna – Essa é uma contradição. É difícil, porque são atitudes, comportamentos, expectativas republicanas que não são compatíveis com as formas como esses homens foram treinados, socializados e chegaram à política. E eles fazem política da forma mais tradicional. Não obstante, estão sendo mobilizados para realizar agendas modernas. Dilma escolhe apenas por cálculo político, para ter maioria governamental.
IHU On-Line – Há limites para a coalizão de governo?
Werneck Vianna – Devem existir. As coalizões devem ser programáticas e não de oportunidade e instrumentais como são essas nossas. Na verdade, o governo acha que representa o moderno e os interesses gerais da nação e qualquer acordo que ele faça com a tradição, com o atraso, com o patrimonialismo, com o clientelismo não importa.
IHU On-Line – O PT guarda ainda alguma inovação para a política nacional ou rendeu-se ao pragmatismo?
Werneck Vianna – Ele se rendeu. Mas há coisas importantes ainda no PT, que trouxe inovações, arejou e aproximou os movimentos sociais do governo, da administração, além de ter uma política muito atualizada e amável com a vida sindical. Os sindicatos têm uma participação importante ainda, não tanto no governo Dilma como tiveram no governo Lula, mas ainda têm alguns elementos característicos disso. Isso tudo são registros a serem feitos na agenda que o PT tem cumprido até aqui. O que ele perdeu foi o elã, a inspiração, o vínculo com as suas origens, com as suas grandes expectativas de produzir uma transformação no país. Na verdade, o PT se tornou uma força condutora da expansão burguesa no Brasil.
IHU On-Line – Em outras entrevistas o senhor sempre reiterou que o governo Lula havia cooptado os movimentos sociais, trazendo-os para dentro do Estado. Como está a situação levada por Dilma neste primeiro ano de governo?
Werneck Vianna – Isso persiste, mas com uma atenuação, visto que com Lula esse processo avançou muito. As questões que importam para Dilma são as de estado e de economia, de gestão, de racionalização. Ela é muito desatenta em relação a esses problemas de tornar o governo mais poroso, mais próximo dos movimentos sociais, atraindo-os para o Estado e daí exercendo sobre eles uma tutela. É uma questão que existe, que continua, mas não é a ênfase do governo Dilma. A ênfase do governo Dilma é economia de gestão, racionalização.
IHU On-Line – Em que sentido podemos ver a marca da racionalização no governo Dilma?
Werneck Vianna – Nesse sentido, ela vem merecendo o qualificativo de “gerentona”, a gerente do Brasil como empresa, como negócio e não como sociedade. O que traduz de forma mais incisiva é a natureza desse governo tendo como seu sistema fundamental de orientação o aprofundamento e a expansão da ordem burguesa no país. Daí os movimentos sociais estão articulados com o Estado, cooptados, os sindicatos não deixam de estar também jurisdicionados pelas políticas governamentais. A sociedade se deixa levar na medida em que a taxa de emprego está bastante razoável e os negócios prosperam. No entanto, a sociedade está órfã politicamente.
IHU On-Line – Em que medida Dilma difere de Lula em relação aos direitos humanos e aos sindicatos?
Werneck Vianna – Em relação aos direitos humanos, a posição dela difere positivamente. De qualquer forma, o mundo que ela pegou é diferente do mundo de Lula. Esse era anterior à Primavera Árabe e a todos os acontecimentos depois deste grande acontecimento que ainda persiste. Dilma se aproximou de uma agenda de direitos humanos bem mais moderna e atualizada do que a de Lula. O que não quer dizer que ela tenha rompido, mas ponderou algumas ênfases do governo Lula. Em relação aos sindicatos, não é o estilo dela. Ela não veio desse mundo. Ela veio aí do Rio Grande do Sul, da administração pública. A carreira de Dilma é de gestora. Lula fez uma carreira na sociedade civil, de líder sindicalista, que sabe falar e sabe qual é a linguagem própria a ser usada. De qualquer forma, ele tinha uma proximidade forte com os pleitos sindicais e se reunia com eles quase que entre iguais. Já a Dilma delega isso. Não concebo a ideia de que Dilma trai o mandato de Lula. Ela procura ser fiel. O problema é que não é fácil ser fiel, pois ela é diferente dele.
IHU On-Line – Mas por que o senhor afirma que Dilma cada vez mais é constrangida à infidelidade?
Werneck Vianna – Independentemente do sistema de valores dela, as circunstâncias atuais a obrigam a inflexões e mudanças, mesmo que elas não sejam lá muito compatíveis com o espírito e o sentido do que preponderou no governo Lula.
IHU On-Line – Como o senhor define a “cara própria” do governo Dilma?
Werneck Vianna – Dilma é uma grande racionalizadora, uma grande administradora. A política não é o ramo dela.
IHU On-Line – O que marca a guinada introduzida por Dilma no presidencialismo de coalizão brasileiro? Como seria uma coalizão mais programática?
Werneck Vianna – Essa guinada ela não fez e nem ameaça fazer. As marcas visíveis, evidentes até então, são de que ela persiste no modelo anterior. Não é fácil erradicar, é preciso ter coragem política para erradicar. Importaria ter um programa de reformas real. Mas o que vemos é um governo dividido em todas as questões. Por exemplo, a reforma trabalhista: os empresários a querem, os sindicatos não. Tanto empresários como sindicatos estão dentro do governo. Outro exemplo é a reforma do Código Florestal: a oposição entre o agronegócio e os ambientalistas é mortal. Os dois lados estão dentro do governo, assim como está também a estrutura da propriedade familiar. Como resolver isso? É um ministério para um, um ministério para outro, e assim vão se criando essas composições. Vejo que a reforma previdenciária, que parece que Dilma vai fazer, é algo que vai repercutir, por ser uma questão sensível e pelo fato de o PT ser um partido mais “funcionário público” do que qualquer outra coisa. A questão promete ser dolorosa. Não sei o quanto de dor, mas alguma dor isso acarretará.
IHU On-Line – A situação de Dilma também é delicada em relação à bancada evangélica no Congresso…
Werneck Vianna – Isso. De um lado ela é libertária e de outro está comprometida com o que há de mais recessivo em matéria comportamental na sociedade brasileira. Para onde ela vai? Quer aprofundar o moderno ou quer fazer com que o moderno só passe? Imagino daqui para frente um quadro de muita exasperação da política. Na questão dos funcionários públicos, na questão do meio ambiente, na questão militar já há indícios disso, bem como na questão agrária e na questão sindical. A política tende a ressurgir nos próximos anos com muita força. Não há mais possibilidade de segurar a sociedade com esse jogo de manter os contrários em permanente equilíbrio. Uma hora dessas, assim como no número das varetas no circo, isso vai cair, o equilibrista perde o controle. Não estou anunciando agonias. Estou dizendo apenas que a sociedade não vai ficar com essa ausência de movimentação que hoje a tem caracterizado. Isso vai se energizar. Há indicações fortes na vida associativa de robustecimento dela, o que tende a se generalizar de forma autônoma, sem vínculos com o Estado.
IHU On-Line – O senhor aposta em iniciativas como o movimento dos indignados, ou o Ocupe Wall Street, por exemplo?
Werneck Vianna – Cada forma de protesto tem a sociedade que merece. Não sei se vamos chegar a ações desse gênero. Estou falando de coisas mais tópicas, mais localizadas. Por exemplo, está muito difícil manter a força sindical dentro do governo do jeito que as coisas se encontram.
This interview was first published in IHU-Online